Série “Eficiência Reprodutiva em Bovinos de Corte”: Efeito da Sanidade

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O rebanho bovino brasileiro é o segundo maior do mundo somente perdendo para o rebanho da Índia. Porém, em termos de rebanho comercial, o Brasil é o maior do mundo. O Brasil é o 2º maior produtor e o maior exportador de carne bovina do mundo. Com o crescente aumento da população mundial, (projeções da ONU para 2030 é de 8,5 bilhões de habitantes e para 2050 é de 9,7 bilhões de habitantes) o aumento da demanda de carnes, entre elas a carne bovina, será crescente também. O Brasil tem um papel preponderante nesse cenário mundial, pois é o país com mais condições do mundo, para atender essa demanda por alimentos interna e externa. A área de pastagens do Brasil, somam 172 milhões de hectares (ABIEC, 2011), equivalente as áreas da França, Espanha, Alemanha e Itália juntas. Porém, o Brasil ainda possui uma taxa de desfrute baixa, quando comparada a grandes produtores de bovinos de corte no mundo. A taxa de desfrute do Brasil é de 22 %, da Argentina, 26 %, da Austrália 32 % e dos EUA é de 37 % (USDA, Brasil: Fórum Nacional Permanente da Pecuária de Corte CNA). A taxa de desfrute é calculada dividindo-se o número de animais abatidos pelo número total do rebanho do país, multiplicando-se por 100. Para conseguir atender à crescente demanda mundial por carne bovina, o Brasil terá que melhorar a taxa de lotação do gado, que hoje é de 1,2 cabeças/hectare, aumentar a taxa de desfrute, melhorar manejo, manejo reprodutivo a nutrição dos animais. Um dos maiores desafios, é a melhora dos índices reprodutivos, pois o produto final de toda a cadeia da carne é o bezerro ao pé da vaca. Os bezerros é que vão se transformar em bois e matrizes para manter toda a cadeia ativa. Esse artigo visa identificar quais são os fatores mais importantes que interferem nos índices reprodutivos das vacas de corte e onde os produtores e técnicos necessitam focar os seus esforços, para conseguir produzir o maior número de bezerros com qualidade. Dentre os fatores que afetam os índices reprodutivos, temos a ambiência, a sanidade do rebanho (manejo sanitário), o manejo reprodutivo e a nutrição. Neste artigo será tratado sobre a sanidade. Várias doenças infectocontagiosas causam infertilidade, subfertilidade e abortos, causando prejuízos econômicos, através dos baixos índices reprodutivos e altos custos dos tratamentos e pelo tempo de cura. A vacinação é uma importante ferramenta para evitar os danos ocasionados por várias doenças, sendo que algumas doenças, não possuem uma vacina, ainda eficaz como agente profilático. A seguir são explicitadas as principais doenças:

Brucelose: é causada por uma bactéria, à Brucella abortus, causadora de abortos, bezerros natimortos, subfertilidade e infertilidade. Vacas que contraem a Brucelose, no estágio inicial de prenhes, abortam geralmente entre o 7º e o 8º mês de gestação. Com o tempo, criam uma certa resistência e podem levar a próxima gestação a termo, porém, continuam sempre contaminadas e liberando as bactérias através da placenta e dos lóquios, contaminando o ambiente aonde pariram. Libera as bactérias através do leite também. Os bezerros nascidos de vacas com brucelose, nascem mais fracos e suscetíveis a outras infecções e são portadores da brucelose. Animais com brucelose, devem ser notificados ao órgão responsável pela sanidade animal, no caso de Minas Gerais é o IMA e abatido em condições especiais com acompanhamento oficial. Não existe tratamento eficaz e permitido por lei. A profilaxia se faz através de vacinação a todas as fêmeas entre a idade de 3 e 8 meses de idade. È de grande importância econômica e sanitária, além de ser uma zoonose (transmissível para o homem, principalmente através do leite cru e queijos feitos com leite cru).

Leptospirose: é uma bactéria que vive no aparelho urinário dos ratos, que são portadores assintomáticos, que eliminam as bactérias através da urina. Em ambientes úmidos e encharcados, onde os ratos urinam, a Leptospira spp. sobrevive por longo tempo, podendo infectar os bovinos através da ingestão das bactérias, como também as bactérias podem penetrar através das lesões de cutâneas. As vacas infectadas, mesmo sem apresentar os sintomas, passam a ser meio de infecção para outras vacas pela eliminação das bactérias via urina, mesmo sem a presença de ratos (seu maior vetor). A Leptospirose causa abortos, geralmente entre o 4º e 7º mês de gestação. Existem vários sorovares de leptospirose, tais como Leptospira pomona, icterohaemorragie, hardjo, wolffi, interrogans entre outras. A vacinação é eficaz, desde que, se faça uma análise dos sorotipos presentes no rebanho, para que a vacina contenha as sorovares específicas, pois não existe imunidade cruzada, uma vaca que foi vacinada com a cepa da pomona, não está protegida contra a hardjo e vice-versa. O tratamento é feito com antibióticos e o de eleição é a estreptomicina. Os animais devem ser vacinados a cada seis meses.

Diarreia Viral Bovina (BVD): é uma doença infectocontagiosa, causada por um vírus, que é transmitido por via placentária, fetos abortados, contato entre animais através das secreções e fezes, que em animais jovens entre 6 e 12 meses, ocasiona diarreia. Em animais adultos, vacas em reprodução, pode ocasionar aborto, principalmente entre o 3º e 4º mês de gestação, infertilidade, defeitos congênitos e atraso nos animais contaminados. Profilaxia é feita através de vacinação anual. Os touros podem transmitir através da cobertura.

Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (IBR): é causada por um Herpes vírus, que pode ficar latente no animal por longos períodos, e apresentarem os sintomas em casos de estresse e/ou tratamentos prolongados com corticosteroides, em ambos os casos, isso ocorre devido a imunossupressão. A transmissão ocorre através das secreções nasais, vaginais, oculares, fetos abortados e através da cobertura (coito). O sêmen congelado também pode transmitir a IBR, no entanto, as Centrais de inseminação artificial fazem exames periódicos nos touros para evitar congelar o sêmen de touros infectados. O mesmo cuidado deve ser tomado quando se congela sêmen nas fazendas. Além de problemas respiratórios, a IBR causa infertilidade e abortos. A vacinação anual é a profilaxia.

Campilobacteriose: é uma doença infecciosa venérea, causada pela bactéria Campylobacter fetus venerealis, que causa repetições de cio e abortos. A vacinação é um importante meio de controle e deve ser feita anualmente. O touro é o principal meio de transmissão. Tricomonose: é uma doença infecto contagiosa, transmitida sexualmente, causada pelo protozoário Trichomonas foetus. O aborto é raro, sendo a absorção embrionária o principal sintoma. Causa cios irregulares. O touro infectado deve ser descartado. Um bom manejo sanitário é importante para melhorar os índices reprodutivos. Nos próximos artigos trataremos sobre os demais fatores.

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