A nutrição de vacas de leite vem conquistando avanços importantes nas últimas décadas. Um dos fatores de grande importância numa dieta de vaca leiteira em lactação, sem dúvida é a proteína. Durante décadas, dietas eram formuladas para atender a proteína total da dieta, porém, a necessidade da vaca não é de proteína, mas sim, por aminoácidos que compõem essa proteína. Dos vinte aminoácidos necessários para as vacas, dez são considerados essenciais. Aminoácidos essenciais são aqueles que necessitam ser ingeridos via dieta, pois não são sintetizados pelo organismo, ou são sintetizados em quantidades insuficientes para atender as necessidades diárias do animal. Os aminoácidos não essenciais são aqueles sintetizados em quantidades suficientes para serem atendidas as necessidades diárias pelo organismo do animal.
Um dos aminoácidos essenciais mais importantes, e que é limitante para produção de leite, além de influir no teor de proteína do leite, em manter um bom funcionamento do sistema imunológico entre outros, é a metionina. A metionina é um aminoácido limitante, pois quando na dieta temos teores abaixo do necessário, ocorre perda em produção, não conseguindo a vaca expressar todo seu potencial genético, sendo mais evidente em vacas de alta produção. A metionina que está circulante no sangue é utilizada pela glândula mamária para produção de leite e da síntese proteica do leite. O grande desafio, é que para atendermos as necessidades diárias de metionina, quando a mesma é fornecida na dieta contida nos alimentos, a metionina que não é “Bypass”, ou seja, que não passa intacta pelo rúmen e chega ao intestino delgado para ser absorvida como metionina, é metabolizada no rúmen pelas bactérias.
As fontes de proteínas que chegam ao intestino delgado são basicamente as proteínas microbianas, as proteínas não degradadas no rúmen e a proteína endógena (são células da descamação do trato gástrico) são as denominadas proteínas metabolizáveis.
A necessidade diária de metionina para a vaca é a que se encontra presente na proteína metabolizável. Uma maneira de quantificar a necessidade diária de metionina para a vaca em lactação é o percentual desse aminoácido em relação à ingestão total de aminoácidos essenciais, que nesse caso, é 5 % do total de aminoácidos essenciais, tendo-se ainda o cuidado, de se manter uma proporção adequada entre metionina e lisina, que é outro aminoácido essencial limitante. A proporção adequada de Lisina: Metionina é próxima de 3: 1.
Segundo predições dos modelos (INRA, 1989; NRC, 2001; Fox et al., 2004), a metionina é o aminoácido mais limitante para produção de leite em vacas leiteiras, em dietas com silagem de milho, milho grão e farelo de soja e/ou farinhas de origem animal (exceto a farinha de peixe). Geralmente, espera-se resposta positiva em teor e produção de proteína no leite ao maior suprimento dietético de metionina metabolizável, mas a resposta em desempenho não ocorre de forma consistente (Patton, 2010; Robinson, 2010). A magnitude e a direção da resposta à suplementação com metionina dependem da composição da dieta basal (Moraes Junior, 2014; Phipps et al., 2008), do estágio da lactação (Schwab et al., 1992), do suplemento de metionina utilizado (Patton, 2010), da ocorrência de outros nutrientes limitantes (Berthiaume et al., 2001), da capacidade sintética da glândula mamária (Proud, 2007; Burgos et al., 2010), e provavelmente de outros fatores fisiológicos e de manejo.
Vários estudos foram feitos com metionina protegida (encapsulada para não ser degradada no rúmen), avaliando o resultado em produção de leite, sólidos do leite e reprodução de vacas leiteiras.
Num trabalho realizado por pesquisadores do Departamento de produção animal da Faculdade de Agricultura, da Universidade da Jordânia (Titi et.al 2014) avaliando dietas isso energéticas com percentuais de proteína bruta de 14 e 16 % respectivamente. Cada dieta foi fornecida a três grupos de vacas holandesas primíparas, cada grupo composto por 30 animais sendo o primeiro grupo controle, um segundo grupo com fornecimento diário de 15 g de metionina encapsulada (MET 55, da empresa canadense Jefo Nutrition Inc., composta de 55 % de DL metionina e encapsulada com óleo vegetal hidrogenado 45 %) e um terceiro grupo com fornecimento diário de 25 g de metionina encapsulada MET 55. Os resultados para 14% de proteína foram de 21,12 kg, 21,30 kg e 22,62 kg, para o grupo controle, para o grupo de ingestão de 15 g de MET 55 e para o grupo de ingestão de 25 g de MET 55, respectivamente. A produção do grupo que ingeriu 25 g de MET 55 foi maior que a dos demais grupos e foi significativa estatisticamente. Os resultados para 16% de proteína foram de 22,84 kg, 24,75 kg e 25,97 kg, para o grupo controle, para o grupo de ingestão de 15 g de MET 55 e para o grupo de ingestão de 25 g de MET 55, respectivamente. A produção de leite do grupo que ingeriu 25 g de MET 55, foi maior que a dos demais grupos e foi significativa estatisticamente.
Em relação ao efeito da metionina protegida nos sólidos do leite, Yang et al. 2010, no experimento com a DL metionina protegida fabricada pela Sumitomo Chemical Co. Ltd, Japão, com 70 % de DL metionina, realizado com 36 vacas foram que foram divididas em 6 grupos de 6 vacas cada, variando de 0 a 70 g de DL metionina protegida, não houve diferença significativa estatística, para proteína e lactose, no entanto para gordura, o grupo que ingeriu 56 g de DL metionina protegida teve um aumento de 23,93 % e 22,73 % de aumento em relação ao grupo controle, com 0 de DL metionina protegida. No experimento de Fusconi et al. 1995, o percentual de gordura, lactose e proteína, não tiveram diferenças estatísticas significativas, no entanto, a produção diária de proteína foi de 0,89 kg por dia para o grupo controle e 0,95 kg para o grupo que ingeriu recebeu 40 g por dia do produto, Me-pass 40 % (TREI – Modena; Itália), que corresponde a 16 g de DL metionina micro encapsulada. Como a produção de leite aumentou e o percentual de proteína ficou inalterado, houve aumento da produção diária de proteína.
Outro efeito positivo da metionina que vem sendo estudado é a sua participação na reprodução das fêmeas leiteiras, atuando principalmente na viabilidade dos embriões. Vacas em suas dietas foram enriquecidas com metionina protegida, tiveram embriões com maior reserva de lipídeos do que as vacas controle, Acosta et al., 2016. Essa reserva maior de lipídeos, é muito importante para a sobrevivência do embrião, nas fases iniciais, onde depende dos fluidos uterinos para se nutrir.
Concluindo, o uso da metionina protegida gera benefícios através do aumento da produção de leite, produção
de proteína total, percentual de gordura do leite e qualidade do embrião. No entanto, existem ainda resultados trabalhos onde os resultados não foram consistentes. O uso de um nutriente específico para melhorar os índices produtivos e reprodutivos, deve passar por uma análise de todos os fatores que possam interferir no resultado, como a dieta (níveis de ingestão de matéria seca, proteína e energia da dieta, níveis vitamínicos e minerais, e níveis dos aminoácidos limitantes), o manejo e a condição sanitária das vacas. A metionina protegida se torna uma excelente ferramenta nas mãos do nutricionista de ruminantes, desde que através do seu uso, não se busque melhorar resultados por falhas de outras origens.